segunda-feira, 19 de abril de 2010

UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES



O livro escolhido para leitura é UMA APRENDIZAGEM OU LIVRO DOS PRAZERES, DE CLARICE LISPECTOR. Recomendo essa leitura a todos para que também se deliciem com a história de Lori, uma garota nascida de alta classe, mas que por opção, e em prol de sua liberdade, decidiu-se ser professora primária e mesmo assim continuava recebendo mesada do pai. Eis que conhece Ulisses, também professor, só que de Filosofia, e entre eles surge uma história regada de muitas pitadas de amor, mas que vai sendo desvendada ao longo da narrativa. Esta marcada por encontros, desencontros e sobretudo a mais perfeita exposição do introspecto feminino lineada por uma contínua caminhada de aprendizagens de ambos, especialmente de Lori, com mostra o excerto: " ...ela está sendo preparada para a liberdade por Ulisses...", mas que também não o exclui dessa aprendizagem, onde ambos estão em busca do prazer e da entrega total:

Só poderia haver um encontro de seus mistérios se um se entregasse ao outro: a entrega de dois mundos incognoscíveis feita com a confiança com que se entregariam duas compreensões...." metáfora descrita ao narrar o encontro de Lori com o mar, mas bem que esse mar poderia se chamar Ulisses...

Segue outra poesia da autora, mas não está nesse livro:

O NASCIMENTO DO PRAZER (trecho)

O prazer nascendo dói tanto
no peito que se prefere sentir
a habituada dor ao insólito prazer.

A alegria verdadeira não tem explicação possí­vel,
não tem a possibilidade de ser
compreendida - e se parece com
o iní­cio de uma perdição irrecuperável.

Esse fundir-se total é insuportavelmente
bom - como se a morte fosse o nosso
bem maior e final, só que não é a morte,
é a vida incomensurável que chega a se
parecer com a grandeza da morte.

Deve-se deixar inundar pela alegria
aos poucos - pois é a vida nascendo.

E quem não tiver força,
que antes cubra cada nervo
com uma pelí­cula protetora,
com uma pelí­cula de morte para
poder tolerar a vida.

Essa pelí­cula pode consistir em
qualquer ato formal protetor,
em qualquer silêncio ou em várias
palavras sem sentido.

Pois o prazer não é de se brincar com ele.

Ele é nós.


Autor: Clarice Lispector

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